Agentes Conversacionais no Mercado de Investimentos (Panorama atual)
Agentes conversacionais baseados em Inteligência Artificial (IA) estão redefinindo a forma como investidores interagem com instituições financeiras. Nos últimos anos, bancos e fintechs na América Latina intensificaram investimentos em IA generativa para atendimento e assessoria.
Introdução
Agentes conversacionais baseados em Inteligência Artificial (IA) estão redefinindo a forma como investidores interagem com instituições financeiras. Nos últimos anos, bancos e fintechs na América Latina intensificaram investimentos em IA generativa para atendimento e assessoria.
Segundo pesquisa da Febraban em parceria com a Deloitte, oito em cada dez bancos brasileiros já incorporaram IA generativa em suas operações, com investimentos tecnológicos estimados em aproximadamente R$ 47,8 bilhões até 2025 (Forbes Tech, 2025). Nesse contexto, surgiram assistentes virtuais de investimento capazes de conversar com clientes, responder dúvidas e até recomendar carteiras, sempre alinhados às diretrizes de compliance.
A seguir, são apresentados casos reais, evidências sobre engajamento e confiança, a adoção por escritórios de wealth management, o ecossistema de soluções e as principais tendências para o setor.
Casos recentes de agentes de investimento por IA (2023–2025)
Várias instituições financeiras lançaram agentes conversacionais como assessores de investimento virtuais, com resultados relevantes em engajamento e eficiência.
Itaú Unibanco (Brasil, 2025)
O Itaú Unibanco lançou a ferramenta "Inteligência de Investimentos Itaú", um agente baseado em IA generativa voltado inicialmente a cerca de 10 mil clientes dos segmentos Uniclass e Personnalité sem assessor humano dedicado (NeoFeed, 2025).
A solução interage via chat para tirar dúvidas sobre produtos financeiros e recomendar alocações personalizadas a partir dos modelos de inteligência do banco, com curadoria de aproximadamente 50 produtos em renda fixa e fundos, respeitando barreiras de suitability para garantir aderência ao perfil de risco (NeoFeed, 2025).
O piloto, com funcionamento 24 horas por dia, foi concebido para se expandir gradualmente em 2025 e 2026, complementando o trabalho humano e focando em escala com segurança regulatória (NeoFeed, 2025).
Santander Pitch Maker (Brasil, 2025)
Em abril de 2025, o Santander introduziu o Pitch Maker, assistente de assessoria de investimentos com IA generativa voltado a clientes Private e AAA (Forbes Tech, 2025). Desenvolvido em parceria com AWS e BRQ, o sistema reduziu o tempo de preparo de recomendações de cerca de 35 minutos para menos de 30 segundos (BRQ, 2025).
Nos primeiros meses, foram observados aumento de 24% na efetivação de contratos semanais, satisfação de 91% dos usuários e mais de 500 pitches gerados por dia (BRQ, 2025). O Pitch Maker integra informações de perfil do investidor, carteira e mercado, liberando o assessor para se concentrar em relacionamento e estratégia.
Reinvent (Brasil, 2024)
A Reinvent, fundada por ex-executivos da XP Inc., é apresentada como uma das primeiras assessorias de investimentos brasileiras a combinar de forma estruturada expertise humana e IA. Atende clientes de alta renda, com modelo de fee fixo, e utiliza IA generativa para automatizar tarefas operacionais de assessoria (TI Inside, 2024).
Os resultados divulgados incluem redução do onboarding de 120 para 20 minutos e aumento de 108 por cento no número de clientes atendidos por assessor (TI Inside, 2024). A empresa reporta NPS de 95 e aceitação de tecnologia de 86 por cento, com clientes declarando satisfação em relação ao monitoramento inteligente de carteira e aos insights mensais gerados pela IA (TI Inside, 2024). A automação poupa mais de três horas diárias do assessor, que passa a focar em aconselhamento personalizado.
W2+ Investimentos com AIQGEN (Brasil)
A W2+ Investimentos, fintech de investimentos, enfrentava desafios de usabilidade em sua plataforma. Muitos usuários não entendiam bem a mecânica de configuração dos agentes de investimento e acabavam perdendo oportunidades ou abandonando o uso (AIQGEN, 2025).
Para resolver o problema, a empresa passou a usar um agente de IA no WhatsApp desenvolvido pela AIQGEN. O agente conversa diretamente com o cliente, guia passo a passo, configura automaticamente os parâmetros de investimento e explica de forma clara cada recomendação. O usuário deixa de precisar entender a lógica interna da plataforma, interagindo apenas pela conversa no WhatsApp (AIQGEN, 2025).
Segundo o case divulgado, os resultados foram: redução de 70 por cento no abandono, aumento de 85 por cento nas oportunidades aproveitadas e índice de satisfação de 98 por cento entre os usuários atendidos pelo agente conversacional (AIQGEN, 2025).
Arta Finance e Robinhood (EUA, 2025)
No exterior, a Arta Finance lançou o Arta AI, consultor financeiro de IA para investidores qualificados, integrado a uma equipe humana. Os agentes respondem por voz ou texto, inclusive com linguagem coloquial, visando aproximar-se da geração Z (Bloomberg Línea, 2025). A solução opera 24 horas por dia, e a empresa planeja licenciar a tecnologia para outras instituições.
Em paralelo, a corretora Robinhood anunciou o "Robinhood Cortex", assistente de investimentos por IA integrado à sua plataforma, reforçando a tendência de uso de IA em corretoras digitais (Bloomberg Línea, 2025).
Impacto na experiência do investidor: engajamento, confiança e comportamento
Engajamento e lealdade
Pesquisa acadêmica da UFRGS com 349 usuários indicou que setores financeiro, de e-commerce e telecom lideram o uso cotidiano de chatbots no Brasil (UFRGS, 2025). O estudo mostrou que presença social, utilidade percebida, satisfação e familiaridade de uso têm efeito positivo no engajamento.
Engajamento mais alto leva a maior lealdade no uso contínuo do assistente, e todas as hipóteses testadas sobre essas relações foram estatisticamente suportadas (UFRGS, 2025).
Aceitação e confiança
Levantamentos de mercado indicam crescente aceitação de IA em serviços financeiros. Pesquisa compilada por Valora Analitik mostra que 62% dos clientes afirmam confiar que a IA pode tomar decisões financeiras corretas desde que exista supervisão adequada (Valora Analitik, 2025).
Fatores que aumentam a confiança incluem transparência sobre como a IA funciona, garantias de compliance e a possibilidade de interação humana quando necessário.
Adoção por escritórios de wealth management
A adoção de agentes conversacionais não se limita a grandes bancos. Escritórios independentes de wealth management também estão incorporando essas soluções para escalar atendimento e melhorar eficiência operacional.
Segundo pesquisa da Gorila (2024), assessores que incorporam IA ao seu trabalho e desenvolvem competências em uso de ferramentas, interpretação de analytics e comunicação com suporte tecnológico tendem a aumentar significativamente sua produtividade.
Ecossistema de soluções
O mercado de agentes conversacionais para investimentos está se expandindo rapidamente, com diferentes modelos de negócio emergindo:
- Coaching financeiro gamificado: com quizzes e desafios personalizados
- Assistentes de voz: para interação direta com a carteira
- Bots white label: licenciados para múltiplas instituições
- Family offices virtuais: por assinatura, oferecendo consultoria automatizada a preços acessíveis
Esses modelos podem pressionar a revisão de estruturas tradicionais de remuneração por comissão ou percentual de ativos.
Regulação e confiança
O Banco Central do Brasil incluiu a supervisão do uso de IA entre as prioridades regulatórias para 2025 e 2026 (O2OBOTS, 2025). Espera-se evolução de normas sobre transparência dos algoritmos, responsabilidade por recomendações e requisitos específicos para suitability em aconselhamento automatizado.
Pesquisas indicam que, quando bem implementada e supervisionada, a IA tende a aumentar a confiança do cliente. Em estudos compilados por Valora Analitik, 62 por cento dos clientes afirmam confiar que a IA pode tomar decisões financeiras corretas desde que exista supervisão adequada (Valora Analitik, 2025).
O papel do assessor no longo prazo
A profissão de assessor tende a passar por transformação, com maior ênfase em inteligência emocional, construção de confiança e interpretação de contexto.
Em momentos de estresse de mercado, a presença humana continua sendo vista como fundamental para acalmar investidores e evitar decisões impulsivas (Bloomberg Línea, 2025). A expectativa é de um cenário de simbiose, em que a IA cuida do operacional e do processamento massivo de dados, enquanto o assessor oferece julgamento, ética e proximidade.
Assessores que incorporarem IA ao seu trabalho e desenvolverem competências em uso de ferramentas, interpretação de analytics e comunicação com suporte tecnológico tendem a aumentar significativamente sua produtividade (Gorila, 2024).
Conclusão
Entre 2023 e 2025, agentes conversacionais deixaram de ser apenas experimentos para se tornar componentes concretos da estratégia de atendimento e assessoria em investimentos. Casos no Brasil e no exterior mostram ganhos em produtividade, satisfação do cliente e alcance de novos públicos.
Pesquisas acadêmicas e de mercado indicam que investidores estão dispostos a adotar essas soluções, desde que sejam transparentes, úteis e bem integradas ao atendimento humano. A adoção se expande de grandes bancos para escritórios independentes, gerando um movimento de transformação no wealth management.
Para líderes de instituições financeiras, a mensagem é clara: IA conversacional já é um elemento competitivo do mercado. Integrá-la de forma responsável e estratégica pode significar fidelizar clientes, escalar negócios e liderar em inovação, enquanto ignorar essa tendência aumenta o risco de perda de eficiência e relevância.
O futuro da assessoria financeira deve ser construído na combinação entre pessoas e máquinas, em benefício do investidor.
Referências bibliográficas
- AIQGEN (2025). Agentes de IA feitos para o mercado financeiro. Site institucional e caso de sucesso W2+ Investimentos.
- NeoFeed (2025). Itaú "aplica" na IA generativa como agente de investimentos.
- Forbes Tech (2025). Da agência aos agentes: bancos aceleram iniciativas de IA generativa.
- BRQ Digital (2025). Case Santander Pitch Maker: hiperpersonalização em escala.
- TI Inside (2024). Reinvent: assessoria de investimentos baseada em IA.
- Bloomberg Línea (2025). IA na assessoria de investimentos.
- O2OBOTS (2025). Agentes de IA no mercado financeiro: gargalos e oportunidades.
- Valora Analitik (2025). Empresas na América Latina investem em AI agents para vendas.
- Gorila (2024). A era da automação com IA nas assessorias de investimentos.
- Stefanini e Topaz (2025). Inteligência artificial no setor bancário na América Latina.
- Finsiders (2025). Plataforma de gestão para assessores de investimento.
- UFRGS (2025). Impacto dos chatbots no engajamento dos usuários.
- CNN Brasil (2024). Brasil está entre os países que mais usam IA generativa.
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